sexta-feira, dezembro 20, 2013

O "Bom" Velhinho

Não gostaria que esse fosse mais um texto daqueles que reclama da presença do Papai Noel no Natal e, por tabela, deixa o verdadeiro aniversariante de lado. Por mais que concorde com isso, com o fato de que no Natal deveríamos lembrar do Redentor da raça humana, gostaria, entretanto, de entender o motivo pelo qual o “bom velhinho” é tão cativante.
Papai Noel é mais que uma lenda. Ele reflete o que há de mais real na espiritualidade contemporânea, pois nossos dias são marcados por uma espécie de hedonismo no qual a busca pela satisfação pessoal é o maior objetivo. O papel de Deus em uma sociedade assim é o de atender pedidos, como quem esfrega a lâmpada mágica esperando que dela brote algum gênio pronto a atender seus desejos. Se pararmos para pensar, a tradição consumista construída em torno do natal reflete exatamente esse tipo de pensamento; alguém que aparece do nada e supri seus desejos e atende seus sonhos. A realidade do Natal da Bíblia é outra; nela, Jesus é servido da adoração de todos aqueles por quem ele morreu. É verdade que Deus supri seus filhos, mas não em uma relação de consumo e sim em um relacionamento amoroso que envolve dependência por parte destes.

segunda-feira, agosto 12, 2013

MENINOS OU MONSTROS: O que é que está acontecendo com nossos adolescentes?


Semana passada, duas adolescente (16 e 17 anos) mataram a facadas a “amiga” de 18 anos. O crime ocorreu em Jataí, interior de Goiás.
Já nessa semana, em Eirunepé, cidade amazonense próxima à divisa com o estado do Acre, alguns alunos entre 12 e 16 anos passaram mal após tomarem água no bebedor do colégio. Tudo indica que foram vítimas de outro aluno também adolescente que teria jogado veneno de formiga no reservatório da escola.
Há alguns dias, o Brasil ficou estupefato com a morte de toda uma família na Vila Brasilândia, Zona Norte da capital paulista. Marcelo Pesseghini, de apenas 13 anos, é o principal suspeito de chacinar com tiros na cabeça seus pais, a avó e uma tia e depois cometer suicídio. Ele teria antes confessado ao melhor amigo, que seu maior sonho era assassinar os próprios pais e se tornar um matador de aluguel.

segunda-feira, junho 24, 2013

O cristão com a boca no trombone?

O cristão e o direito (e dever) de protestar


Essa semana foi ímpar na história de nosso país. O aumento do transporte público foi o estopim para liberar um grito de indignação contra a corrupção e a injustiça social, dentre outras coisas.
O assunto dividiu os cristãos. Muitos se engajaram. Outros, porém, apesar de partilharem do mesmo descontentamento, recearam se levantar em protesto contra os governos estabelecidos. Para esses,  confrontar a autoridade instituída parece incongruente com a Bíblia pois ela ensina a 1) reconhecer que toda a autoridade é instituída por Deus e por isso devemos ser submissos a ela (Rm 13.1); 2) Orar pelos governantes (1Tm 2.1-2) e honrá-los (1Pe 2.17); 3) Buscar a paz da cidade (Jr 29.7).
Esse questionamento, portanto, é legítimo pois, em uma primeira análise, parece realmente que a Palavra de Deus desautoriza o cristão a protestar contra o governo e os irmãos que assim pensam devem ser respeitados por calcarem suas opiniões naquilo que pensam ser a vontade de Deus.
Gostaria de tentar trazer luz a esse debate, expondo os seguintes pontos:

1. A autoridade é instituída por Deus para fazer o bem (Rm 13.4). Não temos qualquer autorização para confrontarmos o governante que procura o bem de seu povo. Já o contrário, é outra história.
2. A autoridade do governante não é inata mas delegada: a) Por Deus acima de tudo: "Por meu intermédio os reis governam, e as autoridades exercem a justiça" (Pv 8.15). Na mesma linha de raciocínio, Jesus confirmou a Herodes: "Não terias nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te fosse dada de cima". (Jo 19.11) b) Pelo povo. Nas democracias modernas o governante recebe o direito de governar das mãos do povo através do voto. No momento da posse ele, solenemente, promete não medir esforços pelo bem do cidadão. c) Pela Carta Magna do País, a Constituição Federal que assevera direitos inalienáveis ao cidadão, como a liberdade de expressão, por exemplo.
3. Cabe ao cristão ser voz profética diante do mundo. Já diziam que o cristão deve ser a âncora moral da sociedade. Nos tempos do Antigo Testamento, Deus levantou homens para denunciar publicamente o mal. Examinemos alguns exemplos:
a) Isaías - Clamou contra a injustiça, o suborno, a maldade e a opressão destruidora contra o próximo. Ninguém tem direito de oprimir o outro. Isaías dizia que atos como aqueles eram ofensivos a Deus. Quem tinha condições comprava a justiça, portanto, os juízes eram corruptos, o poder legislativo e executivo se deixava vender; como poderia Deus tolerar semelhante coisa? (1:15-17,23; 5:8,23; 58:6,7).
b) Jeremias -  Denunciou o enriquecimento ilícito e também a opressão contra: pobres, viúvas, órfãos; também percebeu que a ambição se assenhoreava dos homens. O profeta viu o rico comprando os tribunais, o perverso ser absolvido e o justo condenado. Ele clama, denuncia e diz que Deus, o justo juiz, irá castigar todo tipo de injustiça praticada pelo homem (5:26-29; 9:2-6; 22:13-17).
c) Amós - Não se amedrontou diante das autoridades, acusou-as de conivência com as injustiças; denunciou o pecado de participarem de um sistema de vida que destruía os mais fracos, os humildes e os pobres da terra. Enquanto o império se expandia pelas mãos de Jeroboão II, os camponeses tinham de pagar o exército, o luxo e a suntuosidade dos estádios..., ops, dos palácios. Uma desigualdade tão grande que causou repugnância aos olhos do profeta. Amós denunciou, trouxe a Palavra do Senhor pois não podia calar-se ao ver tanta riqueza adquirida como fruto da violência e da exploração (3:10). Falou diante das finas damas, não poupou seu vocabulário, ao dizer que elas eram “vacas de basã” (4:1). Devido a todos os abusos cometidos contra os mais fracos, Amós se convenceu: Deus irá tomar vingança, Ele não poupará nenhum no dia do juízo (4:2,3; 8:7-10).
d) Miquéias - Se levantou como a voz de Deus e clamou contra todos os abusos cometidos pelos detentores do poder. Ele sabia dos que passavam a noite planejando o mal, para colocar em prática à luz do dia (2:1,2). Ele denunciou aquilo que foi conquistado ilicitamente, às custas da mentira, da balança falsa e da opressão; quem se enche com o sangue dos outros será destruído por Deus - disse ele (6:10-13). A liderança do país estava corrompida (7:3). Miquéias vê, analisa e revela a voz de Deus. Ele irá exercer vingança contra esta forma de vida corrupta.
4. Nem todo protesto constitui de fato uma desobediência. Nossa Constituição garante o direito da livre expressão de consciência, de credo e de culto. Não existe forma legal de criminalizar a opinião de quem quer que seja. Isso posto, criticar o governo naquilo que entendemos ser criticável, se feito de maneira respeitosa e ordeira é um instrumento legítimo assegurado por lei.
5. A crítica não anula a intercessão. A crítica e o protesto não são incongruentes com o dever cristão de orar pelas autoridades. Ao contrário, como Deus é soberano sobre elas, nossa missão deve ser clamar a Deus para que elas se curvem à sua vontade.
Confesso que a questão é complexa e a linha do equilíbrio é tênue, pois, por um lado, realmente podemos pecar pelo desacato à autoridade instituída por Deus; e, por outro, podemos nos omitir como voz profética nos dias maus.

Para nós, cristãos, o que pode nos dar um norte nesse dilema é olharmos a questão com olhos mais teológicos. Os 20 centavos, por mais simbólicos que sejam, ainda assim significam muito pouco diante da contribuição que poderíamos dar. Para o mundo, basta ter segurança, escola, comida e moradia. Tudo isso a maioria dos países europeus tem e ainda assim são como Laudicéia, “digno de compaixão, pobre, cego e que está nu.” (Ap 3.16).
Devemos ir além do social. Precisamos mostrar que a corrupção social é derivada de um coração corrompido que faz tudo para desprezar o verdadeiro Deus. Volte aos profetas mencionados e você verá que eles não sabiam criticar sem revelar o descontentamento de Deus com a nação. Esse papel é nosso. É o nosso salvador que deixou o exemplo de curar, saciar e salvar. Somente falando dele é que realmente iremos ao encontro de todas as necessidades do ser humano. Pense nisso!

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